Repouso: o que precisa saber
Em algum momento da sua gestação, o seu médico pode achar que você necessita repousar. Essa notícia pode trazer também aborrecimento, frustração por não poder passear seu barrigão, e até um sentimento de culpa.
Mas se seu médico aconselha, é porque poderá existir algum risco na gravidez e o melhor é mesmo prevenir para que continue tudo a correr bem até ao fim.
A Society for Maternal-Fetal Medicine (EUA), apresentou um estudo em que 18% das grávidas estadunideneses fizeram um descanso, curto ou longo, em alguma altura da sua gestação. Por quê?
Não há dúvidas que o esforço físico, além do estresse, causam desgaste ao nosso corpo, que está em mudança, podendo surgir sangramentos e contrações que podem colocar em risco mamãe e bebê.
Assim a primeira e imediata indicação do médico é aconselhar a grávida a ficar “de molho” em casa.
Quando deve o médico costuma receitar o repouso?
É importante que siga seu plano de consultas pré-natal, que seja acompanhada, e faça os exames, para seu médico poder notar possíveis alterações.
1. Pré-eclâmpsia
Pode ser identificada a pré-eclâmpsia, em que há hipertensão da futura mamãe, e que pode ser bastante perigoso se não for controlado. E o descanso é a prescrição imediata.
O obstetra Julio Junior, da Unifesp, reforça que a mulher deve deitar-se de lado, para o lado esquerdo, melhorando o fluxo de sangue para o bebê, evitando ainda que a situação piore com o estresse do cotidiano.
2. Descolamento da placenta
Há também outra situação que exige descanso: o descolamento da placenta, desprendendo-se do útero, provocando falta de oxigenação e desnutrição do bebê, assim como hemorragia.
3. Placenta prévia ou baixa
Ou ainda a placenta prévia ou baixa, que se desenvolve abaixo do útero, que provoca bastante perda de sangue.
4. Ruptura precoce da bolsa
Também a ruptura precoce da bolsa exige descanso absoluto, pois esta situação conduz à perda de líquido amniótico, que pode provocar infecções ao bebé; além do risco de ter o prolapso do cordão, em que pela compressão o fluxo sanguíneo pode deixar de passar da mãe para o bebê.
5. Dilatação antecipada do colo do útero
No último trimestre, pode acontecer a dilatação antecipada do colo do útero, o que pode precipitar o parto.
Conteúdos
O médico diz para repousar, mas que repouso fazer?
Depois de o seu médico dizer para você descansar, é normal ficar um pouco desorientada, pois começa a pensar que tem de passar a restante gestação deitada em uma cama. E receia que o descanso não resolva o problema que foi identificado.
Mas tenha calma, pois “se seguir todas as recomendações, usualmente o repouso resolve”, esclarece Elito Junior.
Dependendo do caso, o seu repouso pode ser relativo, em que o médico apenas indica a mulher para parar de trabalhar e não fazer esforços físicos severos, mas em casa pode andar e fazer as suas atividades normais, como ir ao banheiro ou tomar banho sozinha. Pode também trabalhar no computador, sentada. Faxina, nunca.
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Mas o seu repouso pode ser total, e aí não há como fugir de uma pausa total nas atividades, podendo chegar a uma internação no hospital, para uma maior vigilância. “É normal restringir-se a casos de pré-eclâmpsia”, adverte o professor Gerson Aranha, Obstetra e professor da Universidade Metropolitana de Santos (SP).
Portanto, nem todas as situações exigem esse cuidado rigoroso. Mesmo nesse caso as restrições variam de acordo com o estado clínico da gestante e terá de ser analisado caso a caso.
A maioria das mulheres em repouso pode levantar para ir ao banheiro ou tomar banho. Outras com dilatação alarmante do colo do útero, podem ficar sempre na cama. Também a etapa da gestação vai ditar que descanso será necessário: a pré-eclâmpsia é identificada após o quinto mês; questões relacionadas com placenta e líquido amniótico acontecem no terceiro trimestre, sendo mais complicado.
O estresse, um inimigo do repouso e de uma gravidez relaxada
Se você está passando por alguma das situações mencionadas, pode começar a ficar atormentada com o medo de perder seu bebê e ficar com sentimento de culpa. E isso pode causar outras perturbações que vão interferir no sono, na alimentação, podendo mesmo desencadear ansiedade ou mesmo depressão.
A psicóloga Vanessa Guarino, da Universidade de São Paulo, diz que os familiares são a rede de apoio consistente. O que ela quer dizer é que a futura mamãe deve ser ouvida com calma, e, se necessário, devem aconselhá-la. Uma vez que ela está limitada em casa, sem poder movimentar-se muito, é crucial fazer-lhe companhia e dar apoio que que seus dias tenham ocupação “Sugira filmes, empreste livros, conte piadas, ou histórias do cotidiano… Ela vai precisar para se distrair”, aconselha a psicóloga.
Para que essa fase mais da gestação passe rápido e de forma mais descontraída, convide seus amigos, peça a uma amiga para organizar um chá de bebê para você.
Para quem precisa de descanso e tem um filho mais velho em casa, não será fácil. Aproveite para lhe explicar tudo o que se está passando, envolva ele nesse momento importante e que o irmão conta com a ajuda dele. “A conversa é sempre o melhor solução”, garante Vanessa Guarino. E, mais uma vez, peça ajuda aos seus familiares para cuidar do seu filho maiorzinho, como dar banho ou levar à escola.
Apesar de conversar e explicar tudo para ele, ele vai querer a sua atenção. Então, sugira brincadeiras mais calmas, feitas a dois, onde você estiver a descansar. Jogos de memória, livros coloridos podem ser boas sugestões. Assim, mãe e filho continuam estreitando a sua relação, amenizando a ansiedade que ele possa sentir pela chegada de seu irmão, e a mamãe também terá companhia, carinho e amor.
Como a lei vê o repouso?
Se seu médico lhe prescreve descanso, você não pode continuar trabalhando ou colocará em causa a sua vida e a do seu bebê, em muitos casos.
Em qualquer momento da sua gravidez, a gestante tem direito a descanso remunerado, que tem o nome auxílio-doença e isso também se aplica às autônomas.
O que deve fazer? Ela tem apenas que entregar o atestado médico na empresa onde trabalha, pois essa custeará os primeiros 15 dias de salário em que você ficará em casa. Depois o contrato fica suspenso e será a Previdência Social a pagar os custos.
Você precisa ainda de ir ao site da segurança social, agendar perícia e depois deslocar-se a um posto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Um médico fará uma avaliação e dará o “ok” para ter acesso a esse benefício durante o tempo em que estiver de atestado médico, que pode ser até ao início da licença de maternidade.
O benefício financeiro não será integral, pois leva em conta o período de contribuição, esclarece a advogada Dânia Fiorin Longhi, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). O cálculo é feito pelo INSS (vá ao site da previdência para perceber melhor como é feito esse cálculo).
Durante esse período o vale-alimentação ou refeição ficam suspensos, exceto nos casos em que esteja contemplado na convenção coletiva de trabalho. O apoio também serve para as grávidas que sejam trabalhadoras autônomas, mas terão que ter contribuído para o INSS pelo menos por 10 meses. O auxílio será calculado tendo em conta a média do valor de remuneração dos últimos 12 meses e deverá proceder da mesma forma, ou seja, ir no site e marcar a perícia do médico.
A licença-maternidade pode iniciar 28 dias antes do parto, mas não será a grávida a decidir, mas sim o seu médico. A partir desse momento o INSS deixa de pagar os custos e passa a ser a empresa, onde a grávida trabalha a pagar o salário integral, dependendo da convenção coletiva de cada categoria.
As grávidas que trabalham de forma autônoma continuarão a receber o auxílio da Previdência Social, por 4 meses. As providências são as mesmas, ou seja acessar o site, marcar perícia para apresentar o documento médico. Se a contratação foi feita no regime CLT, as companhias dão mais tempo de licença-maternidade: 180 dias para as trabalhadoras que acabaram de ser mães poderem cuidar dos seus bebês.
O que fazer em casa? Nada!
A grávida precisa de repouso, por isso fica proibida de fazer seja o que for. Organizar armários está fora de questão. Refeições, outra pessoa vai ter que preparar por você. Faxina, nem pensar. É aí que entram seus familiares, amigos, vizinhos ou se puder pagar chame alguém para o trabalho doméstico.
O que comer: saudável apenas!
Num gestação de risco, para além do descanso, a alimentação é importante, para que tudo fique bem. Então, esqueça comida congelada de supermercado! Se não tem tempo, nem pode esforçar-se para fazer refeição a toda a hora, quando seus familiares cozinharem para você, peça para cozinhar em maior quantidade. Guarde no freezer ou congelador para consumir nos dias que seguem.
Mas o ideal é variar na alimentação, então pode optar também por ver que empresas comercializam marmitas frescas e nutritivas.
Sabemos que não é fácil, mas o repouso é muito importante!